sexta-feira, 27 de março de 2020

30/03 - TERTÚLIA DIALÓGICA LITERÁRIA - FERNANDO SABINO


O melhor amigo
    Fernando Sabino
A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.
– Meu filho? – gritou ela.
– O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi possível.
– Que é que você está carregando aí?
Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido,tentou ainda ganhar tempo.
– Eu? Nada…
– Está sim. Você entrou carregando uma coisa.
Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la.Veio caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:
– Olha aí, mamãe: é um filhote…
Seus olhos súplices aguardavam a decisão.
– Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
– Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?
Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso. Insistiu ainda:
– Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
– Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
– Ah, mamãe… – já compondo uma cara de choro.
– Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.
O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado:
A gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!
– Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou
esperando a reação da mãe.
– Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
– Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
– Você não é todo mundo.
– Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não
faço mais nada.
– Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.
– A senhora é ruim mesmo, não tem coração!
– Sua alma, sua palma.
Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois… ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
– Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
– Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: – Meu melhor amigo, não tenho mais
ninguém nesta vida.
– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.
– Deixa de conversa: obedece sua mãe.
Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa
– Pronto, mamãe!
E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez: havia vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.
– Eu devia ter pedido cinqüenta, tenho certeza que ele dava murmurou, pensativo.

quarta-feira, 25 de março de 2020

RELATO ORAL OU ESCRITO

Pessoal, diariamente somos bombardeados com novas notícias sobre a pandemia do coronavírus. Muitos textos estão circulando sobre esse assunto.Vamos analisar os relatos a seguir?

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TEXTO I

https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/o-relato-de-uma-medica-que-esta-lidando-com-o-coronavirus-na-alemanha/

TEXTO II

https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-03-16/o-relato-de-uma-brasileira-confinada-com-os-filhos-e-o-marido-em-madri-o-pesadelo-para-o-imigrante-e-duplo.html

Agora, assista ao vídeo:

https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2020/03/25/em-video-marcelo-magno-agradece-oracoes-apos-sair-da-uti-comemorando-uma-vitoria.ghtml

A partir do vídeo e das leituras realizadas, você deverá produzir, no comentário, um pequeno relato sobre como a pandemia está afetando a sua vida. Como está sua rotina? Você se adaptou às aulas on-line? O que teve de deixar de fazer? O que está conseguindo fazer que antes do isolamento social não conseguia? Como está se sentindo com relação a tudo isso? Lembre-se de colocar nome e sala!

DICA CULTURAL

Queridos, infelizmente, estamos vivendo um período de isolamento social.
O que vocês têm feito de diferente na rotina? Como estão se sentindo com isso?
Minha dica de hoje é o Google Arts & Culture. Esse site se reuniu com mais de 500 museus e galerias no mundo todo para oferecer passeios virtuais e exposições on-line de alguns dos museus mais famosos do mundo. Entre eles, o British Museum em Londres, o Guggenheim na cidade de Nova York e o Musée d´Orsay em Paris. Boa viagem!! 


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terça-feira, 24 de março de 2020

FIGURAS DE LINGUAGEM

Nas aulas de Língua Portuguesa, estamos estudando as figuras de linguagem.
Aprendemos que a metáfora, a metonímia, a catacrese e a perífrase são figuras de palavras.
Agora, você deverá fazer um registro explicando por que essas figuras de linguagem são consideradas de palavra. 
Lembre-se de usar, no mínimo, dois conectivos na sua resposta.

Metonímia, o que é, como usar e diferenças entre figuras de ...

TEXTO DA SEMANA

Na última Tertúlia Dialógica Literária, lemos a crônica: "O lixo" de Luís Fernando Veríssimo.

O Lixo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
 - Bom dia...
 - Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo. - A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
 - Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
 - Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
 - Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
 - É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
 - Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
 - Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
 - Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
 - É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

VERÍSSIMO, Luís Fernando. O analista de Bagé. RJ: Objetiva. 2002.

Gostou do texto? Escreva um comentário sobre ele. Por que esse texto pode ser considerado uma crônica? Explique nos comentários.

Durante a Tertúlia, muitos alunos contaram que ficaram confusos em identificar a fala dos personagens. Para facilitar, assista ao vídeo a seguir:



DICA MUSICAL

Você gosta de ouvir música? Com qual frequência? Qual seu estilo musical preferido?
Atualmente, estou ouvindo um cantor chamado Vander Lee. Você conhece?


DICAS DE LEITURA

Neste espaço, também podemos trocar informações sobre nossas leituras.
O que você está lendo? Qual o último livro que leu? Qual foi a leitura mais marcante para você?
O último livro que li foi: "A Metamorfose" de Franz Kafka. Essa obra foi publicada em 1915.
A história começa com a transformação de Gregor em um enorme inseto.

"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso".

Achei o livro bem interessante porque o autor apresenta o clímax do enredo logo no início da história. Fiquei muito curiosa para saber como a família de Gregor lidaria com a transformação do personagem. Gregor era o responsável por sustentar os pais e a irmã mais nova. Será que Gregor conseguirá voltar ao normal?


segunda-feira, 23 de março de 2020

BOAS-VINDAS!!

Queridos alunos, este blog foi criado para vocês!
Aqui será mais um espaço para a publicação dos nossos textos.
Espero que gostem!
Com carinho,
Profª Thalía.